- Já sabes o que lhe dizer? – ouve-se uma voz perguntar.
- Já…Olha, vem aí…Ainda bem que a Lúcia está a falar com o Bastos, vou tomar isso a meu partido. – disse outra voz, mais propriamente a de Marta, com um prazer maquiavélico. Levantou-se e encaminhou-se ao guitarrista, na sua cara desenhada uma expressão séria e preocupada.
- Bom dia Pedro…
- Olha Marta, se é sobre a cena do sábado…
- Não, não é, - interrompeu – é outra coisa.
- Vá, diz lá. – disse ele, olhando, impaciente, para Lúcia.
- Eu não queria nada dizer isto, mas, sabes, eu ando desconfiada em relação à Lúcia…
- À Lúcia? Que tem a Lúcia? – voltando a cara para Marta.
- Sabes, eu acho que ela anda-se a aproveitar-se de nós à grande…
- O quê? ‘Tás-te a passar ou quê?
- Pois, ela também me parecia brutal, mas tenho reparado que ela se tem andado a infiltrar no nosso grupo. Nas últimas semanas tem-se convidado todos os dias para almoçar connosco!
- Não pode, não és tu que a tens convidado sempre? – disse, erguendo uma sobrancelha.
- Eu? Não!! – mentiu ela, sem dar mostras disso. – Além disso, olha ali para ela, a conversar com o Bastos, parece que já o conhece desde sempre e ele é reservado, sabes disso!
Com estes argumentos, e contra a sua vontade, uma pontada de ciúmes massacrou Pedro, e quando pensava na noite de sábado, apoderava-se dele um sentimento de traição. “Opá, que estúpido!”
- E, qual é o mal Marta? Ela é fixe, nunca se aproveitaria de nós.
- Oh, vejo. – ronronou, quando na verdade ardia de raiva. – Estiveste com ela no sábado à noite, não foi? Oh Pedro, não vês?
És giro, guitarrista de uma banda e popular, ela só te dá bola por interesse.
Um flashback do beijo irrompia na mente dele. “Será? Interesse?”, pensou, desorientado. Já não seria a primeira vez que lhe acontecia…
- Oh, cala-te. Além disso ela vem aí.
E nesse momento Marta abraçou-se a Pedro com toda a força, murmurando-lhe coisas ao ouvido e deixando Lúcia a meio caminho, perplexa.
- Estou aqui para tudo o que precisares, ok Pedro?
Nos dias que se seguiram, ele ignorava Lúcia, ou então respondia-lhe secamente, aparentemente sem razão. O joguinho da outra rapariga tinha funcionado na perfeição, pois ele era impulsivo e muito emocional, aquilo que ele fazia era mais auto-defesa do que algo racional e com lógica.
Na tarde de quarta-feira, a rapariga chega a casa, sendo recebida alegremente pelo pai.
- Olha, em relação ao concerto, tenho-me esquecido sempre de dizer…Podes ir filha!
Ela, com os olhos turvos pelas lágrimas, respondeu:
- Oh pai, obrigada, mas já não vou! – indo desalentada para o quarto.
A verdade era que ela gostava muito de Pedro, mas não percebia algumas das suas atitudes, não percebia o que tinha feito para as merecer, e o pior para si era vê-lo junto com Marta, que provavelmente era a razão do afastamento. O que lhe valia era ter Bastos por perto, com quem tinha feito uma grande amizade. Bastos era um jovem certamente diferente da maioria. Vivia com a avó desde os 4 anos, idade em que os pais se tinham divorciado. Tinha aprendido a ser independente, e era ele que fazia tudo o que a senhora Natércia já não conseguia. Não tinha embaraço em pegar num aspirador ou num avental. Lúcia achava-o extremamente inteligente, o cérebro da banda, compositor dotado e um baterista como não havia nenhum na cidade. Podia-se dizer que era um pouco o oposto de Pedro, impulsivo e com um temperamento por vezes difícil de controlar. Bastos, ou Vasco Bastos (ele não gostava do primeiro nome), era pacato e reservado, tinha um estilo muito próprio e parecia ter engolido um livro de etiqueta (curiosamente, quando estava com a banda não dava para reparar).
Ultimamente, as diferenças tinham-se acentuado, porque Pedro também parecia estar revoltado contra o baterista, respondendo-lhe mal ou desprezando-o. Lúcia chegou a pensar que ele pudesse estar com ciúmes, mas da maneira como ele estava com Marta, rapidamente excluiu essa ideia. Pareciam duas enguias, sempre agarradinhos, mal dava para ver onde acabava um e começava o outro. Por causa disso, o resto da banda tinha praticamente cortado relações com a popular, pois tinham achado uma atitude muito rude da parte dela, e já tinham muito carinho por Lu, como lhe chamavam.
Tinha chegado sexta-feira, e Bastos e Lúcia passeavam pela cidade, conversando sobre algo relaxadamente. Iam a dobrar a uma esquina, e aos olhos deles aparecem dois conhecidos que não queriam muito ver.
- Ensaio em minha casa amanhã à tarde. – disse o baterista, sério.
- Ok. – retorquiu o guitarrista, quase em tom de desafio.
E continuaram no seu caminho, empurrando-se ao passar um pelo outro.
- Bastos, não gosto nada que se tratem assim, ainda arranjam problemas na banda. E a culpa é toda minha… - disse Lúcia.
- Não é tua, é da Marta, que deve ter inventado qualquer coisa para virá-lo contra ti.
- Mas tu também acabas por ser prejudicado…
- Não te preocupes, conhecendo-o como o conheço, rapidamente cai em si e volta tudo a estar bem…
Lúcia parou, fazendo-o parar também, e abraçou-o.
- Oh Bastos, a minha sorte é tu seres tão optimista! Como é que tu consegues guardar os teus problemas e ainda ser assim?
- Eu já os teria partilhado, se o pessoal fosse mais aberto a este tipo de problemas… - interrompeu-se, parecendo arrepender-se do que tinha dito.
Sentindo-se em dívida para com o rapaz, encorajou-o a falar e, com uma atenção e compreensão bem próprias dela, ouviu-o, sentados num dos bancos do jardim.
*
Caff Eine diz:
agora que estou de féria vou aproveitar para passar toda a história para aqui! já estou quase a acabar, três vivas para mim!
vão dizendo o que acham,
beijinho*
- Espera lá, ahahah, 'tás eléctrico! Não sei o que tinha o... - e interrompeu-se, para abrir a boca de espanto, à medida que entrava na divisão.
- Uau, o teu quarto é...é tipo...Uau! Tanta guitarra!
As portas do armário estavam preenchidas com fotos e bilhetes, até mesmo vinis, mas o que se destacava mais era uma guitarra, pendurada na parede, onde o olhar de Lúcia estava preso.
- Era do meu pai... - antecipou-se o rapaz a responder.
- É mesmo linda... Gibson Les Paul, não é?
- Como é que...Como é que conheces?
- Não és só tu que percebes de quitarras, eu tive aulas até aos 13, antes de voltar para Portugal, vivi em Inglaterra, por causa do emprego do meu pai...
- E tiveste aulas lá? Fantástico, o meu pai estudou no Guitar Institute!
E o PES lá ficou esquecido no canto do móvel, enquanto eles trocavam histórias, riam e surpreendiam-se com o que descobriam um sobre o outro.
Quando a noite já ia longa, pegaram numa guitarra e tocaram e cantaram, sentados na varanda como dois velhos amigos.
O último acorde foi seguido por um grande bocejo de Pedro.
- Eia, estou cá com um sono, Lúcia, não estás também?
A rapariga, embalada com Led Zeppelin, tinha adormecido na rede, balançando ligeiramente. Sem vontade de a acordar, mas com medo que o pai dela se preocupasse, encaminhou-se com um sorriso e começou a cantar baixinho ao ouvido dela, com a sua voz grave e rouca. Pouco a pouco, foi abrindo os seus brilhantes olhos azuis, ensonados, e aproximou-se. As caras deles estavam a milímetros, cada vez mais juntas e o desfecho era inevitável. Beijaram-se ali, debaixo de um céu estrelado, sem nuvens e com uma Lua enorme parecendo sorrir.
*
p.s.: desculpem a demora minha gente !
5 para a meia noite laranja haiti profes
café vagabundo música moda saldos autoca
domingo franz ferdinand preguiça
euromilhões música dinheiro paris whatev
música filme livro comida mulher mês gos
música the kills jamie hince alison moss
pedro cancro guitarra tale conto
tramp arriscar risk aventura mentira